Magistrado se notabilizou pelo personagem Epaminondas Gustavo, por meio do qual tratava, com muito humor, o direito e a Justiça
"Ele conseguiu reviver em mim a crença na Justiça brasileira, através de seu testemunho como juiz", disse Silvia Nádia Machado, pedagoga aposentada do Judiciário que atuou como assessora técnica do Programa Começar de Novo, coordenado pelo juiz Claudio Rendeiro, o homenageado na primeira programação aberta ao público desde a inauguração, em dezembro passado, do novo espaço do Museu Judiciário Desembargador Agnano Monteiro Lopes, na avenida Nazaré, nesta quarta-feira, 18. Confira as imagens AQUI
Criador do personagem humorístico Epaminondas Gustavo, o juiz Claudio Rendeiro morreu em decorrência de complicações da Covid-19, em 18 de janeiro de 2021, Dia Internacional e Estadual do Riso. A data estadual foi institucionalizada em homenagem ao magistrado e comediante, por meio de projeto de lei do deputado Dirceu Ten Caten, que também participou do evento no Museu Judiciário.
Sílvia Nádia mediou a roda de conversa "O juiz Claudio Lopes Rendeiro", durante a programação intitulada “Claudio Rendeiro: Trajetória, Memórias e Saudade”. "O doutor Claudio era um juiz singular, alguém que marcou muito a minha vida como profissional e eu acho que as de todos que trabalhavam com ele, porque ele nos ensinou muita coisa, principalmente a levar a vida com alegria e fazer a Justiça funcionar a favor de todos, sem discriminação", disse ela, ao classificar o magistrado como "humanitário", que tinha orgulho de ser chamado de "garantista", porque de fato conduzia a Vara de Execução Penal de forma a assegurar os direitos dos que estavam no cárcere e levar-lhes oportunidades de reinserção social. "Com muito bom humor, ele conseguia fazer o trabalho dele e nos estimular a fazer o melhor possível", disse ela.
Irreverência - A irreverência e a aversão aos protocolos eram características marcantes da atuação do magistrado, assinala Sílvia Nádia, ao lembrar que, nas cadeias, durante os mutirões penais, muitas vezes o magistrado costumava cozinhar para os presos. "Ele gostava de cozinhar. Era uma pessoa muito bem humorada, mas também muito responsável", frisa.
Sílvia Nádia diz que os servidores da VEP já sabiam que, com ele, os mutirões penais não se resumiam a meros eventos burocráticos para verificar as progressões de penas. "No CRF (Centro de Recuperação Feminina), ele fez desfile de moda, levou aula de dança, teatro, coral, aula de musicalização, tudo que ele achava importante para a ressocialização das pessoas, ele levava essas oportunidades".
Ela também fez um resgate histórico sobre as raízes do Começar de Novo, programa de ressocialização de egressos cuja origem é um projeto da equipe do juiz Claudio Rendeiro, a partir das ações desenvolvidas pela Vara de Execução Penal, que foi nacionalizado na gestão do ministro Gilmar Mendes à frente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
"Ele conseguiu muitas parcerias, vagas de trabalho pras pessoas do Começar de Novo", lembrou. O juiz Claudio Rendeiro atuou durante 14 anos na Vara de Execução Penal, de onde saiu para presidir a 4ª Vara do Tribunal do Júri de Belém.
Humor - A desembargadora Rosi Maria Gomes, presidente da Comissão de Gestão Documental e da Comissão de Gestão da Memória, que representou a presidente do TJPA, desembargadora Célia Regina de Lima Pinheiro, na homenagem ao magistrado, assinalou a relevância da preservação da memória de um juiz que se destacou por abrir um canal direto de diálogo entre o Judiciário e a sociedade, de forma leve, didática, profundamente ligada às raízes culturais da região e com muito humor.
"Todo mundo conheceu o Cláudio pelo sorriso, pela alegria, pela intelectualidade. Hoje, nós achamos por bem fazer uma homenagem a ele", disse ela.
Músico e humorista, Adilson Alcântara lembra que a primeira aparição em um espetáculo de humor em teatro feita por Epaminondas Gustavo foi em um show de Adilson no Teatro Margarida Schiwazzappa, em 2017, depois que eles se conheceram por meio do músico Salomão Habib.
"Nós somamos muito, porque ele era muito musical e meu espetáculo tem muita música e, com isso, eu aprendi muita coisa e sempre tou aprendendo; até hoje a gente aprende com as coisas que ele fez e que deixou pra gente", assinalou.
Afeto - Uma das gestoras do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e de Estímulo à Aprendizagem do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, do qual Claudio Rendeiro era um incansável colaborador, a juíza Vanilza Malcher ressaltou atributos dele, como alegria e afetuosidade em relação às pessoas e às coisas, lembrou a relação carinhosa que o magistrado mantinha com sua terra natal - São Caetano de Odivelas, nordeste do Estado - e disse que a figura dele está "imortalizada em nossos corações pelo humor irreverente, respeitoso, didático e humano".
Organizadores do evento junto com a juíza Vanilza, o diretor do Departamento de Documentação e Informação e a chefe do Serviço de Museu do TJPA, respectivamente Claickson Duarte e Leiliane Rabelo, agradeceram à família e aos amigos do juiz pela doação de parte do acervo relacionado ao personagem Epaminondas Gustavo, entre os quais acessórios cênicos (paneiros, tipitis, esculturas de patos, abadás de blocos), 1,5 mil áudios que serão disponibilizados no site do Museu, além da cessão de um piano que era do juiz.
A família do magistrado foi representada pela viúva, Maria de Fátima Fernandes Rendeiro, e pelos filhos e filha. "Ficamos felizes de ver a memória dele preservada, tudo o que ele fez pelo Pará dentro da magistratura e fora dela também, e nós só temos a agradecer por isso", disse Pedro Rendeiro, um dos filhos do juiz Claudio Rendeiro. Na ocasião, foram assinados quatro atos, três dos quais de doação de acervo e um outro de cessão (do piano).
A programação cultural do evento contou com as participações do músico Alan Roffé, que apresentou várias canções feitas com e para o personagem Epaminondas Gustavo; de Ly Rabello, Dimmi da Viola e Adriana Paiva; do violonista Salomão Habib e de um grupo de brincantes do "Vaca Velha", um dos tradicionais bois de máscara de São Caetano de Odivelas. O público também assistiu a um vídeo sobre o homenageado.
Também estiveram presentes ao evento a desembargadora Zuíla Dutra, do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (TRT 8); a juíza Betânia de Figueiredo Pessoa, coordenadora do 2º Cejusc de Justiça Restaurativa; Shérida Keila Pacheco Bauer, juíza auxiliar da 3ª entrância, juíza Valdeíse Maria Reis Bastos, titular da 3ª Vara Cível e Empresarial de Belém; e a secretária de Administração do TJPA, Débora Gomes.