Nasceu em Melgaço, no Arquipélago do Marajó, considerado o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país. Assim como tantas outras meninas, foi vítima de abuso sexual ainda criança. No início da adolescência, veio trabalhar em casa de família na capital, para poder fugir da realidade difícil. Quando chegou em Belém, descobriu que pegaria pesado no trabalho em troca, apenas, de casa e comida. Envelheceu sendo constantemente humilhada pela patroa, numa relação de escravidão, que a impediu de fazer uma das poucas coisas que queria na vida: estudar. Essa é a história verídica de Honorata, mulher que inspirou a peça “De menina à mulher, tortura que ela atura”, apresentada na manhã desta sexta-feira, 23, no Fórum Criminal de Belém.
O espetáculo, de autoria da Companhia Teatro Palha, encerrou a programação da XIV Semana Justiça Pela Paz em Casa, realizada desde o último dia 19. Os espectadores também foram especialmente selecionados. Eram alunos do 3º ano das escolas General Gurjão, Rui Barbosa, Deodoro de Mendonça e David Mufarrej. O objetivo do encontro foi abordar com os estudantes a violência doméstica e familiar contra a mulher e o abuso sexual de crianças e adolescentes.
Após o espetáculo, houve debate sobre os temas abordados na peça com a juíza auxiliar da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cevid), Reijjane de Oliveira; a juíza da 1ª Vara de Crimes Contra a Criança e o Adolescente, Mônica Maciel; a coordenadora pedagógica da Escola General Gurjão, Socorro Rocha; o diretor e a produtora da peça, respectivamente Paulo Santana e Tânia Santos; as atrizes que contracenaram, Marcione Pará e Abgail Silva; além da psicóloga do Tribunal de Justiça do Pará (TJPA), Mayra Lopes, e da pedagoga da Cevid, Riane Freitas.
Aluna do 3º ano do colégio David Mufarrej, Luciana Oliveira ressaltou que a atividade foi um momento único em sua vida. “Eu não tenho palavras para descrever o que eu senti. A peça trouxe muitas questões como a violência contra a mulher, o abuso sexual infantil e a sociedade que fecha os olhos para o povo ribeirinho. De certa forma me emocionou tanto que me modificou enquanto pessoa. Foi incrível”.
Também estudante do mesmo ano e colégio, Eduardo Ribeiro, disse que, com o encontro, pôde entender melhor os direitos das mulheres e das crianças e adolescentes. “Eu achei muito interessante debatermos esse tema. Saio daqui bem orientado. Falaram diversas coisas que eu não sabia sobre direitos e leis de proteção à mulher e à criança e o adolescente”, destacou.
A juíza Reijjane de Oliveira destacou a relevância de trazer para estudantes, de uma forma lúdica, temas como a violência contra mulheres e contra crianças e adolescentes. “Poder trazer a arte e as escolas para dentro do Judiciário para realizar esse debate foi maravilhoso. Foi uma oportunidade também de tirar dúvidas dos estudantes sobre o que é cada violência e como proceder caso seja vítima ou testemunha de algum caso. As professoras também puderam ser orientadas de qual procedimento tomar caso um aluno ou aluna esteja passando por algum tipo de violência. Todos nós saímos muito enriquecidos dessa manhã”, afirmou.
Justiça Pela Paz em Casa - A Semana é realizada por todo o Judiciário brasileiro. No Judiciário paraense, a campanha é elaborada pela Cevid, que tem à frente a vice-presidente do TJPA, desembargadora Célia Regina de Lima Pinheiro. Além da força-tarefa para dar celeridade aos processos de violência contra a mulher, que ocorre em todo o Estado, houve programação específica para a prevenção e conscientização da sociedade sobre o tema.