Área no bairro do Jurunas é utilizada por 600 famílias há um ano
Cerca de 600 famílias que ocupam há um ano uma grande área localizada a 500 metros da Estrada Nova, no bairro do Jurunas, prometem resistir à ação de reintegração de posse prevista, segundo eles, para esta quinta-feira (13), em cumprimento a ordem judicial que atende processo movido pela Prefeitura Municipal de Belém. Os ocupantes argumentam que há décadas a área ocupada não passava de um terreno abandonado sem nenhum benefício de urbanização, servindo de esconderijo para bandidos e ponto de consumo e tráfico de drogas. Procurada, a Polícia Militar do Pará confirmou o mandado de reintegração de posse, mas informou que nã há previsão de data para a execução da medida.
Na manhã de ontem (12), alguns homens seguiam com a construção de pequenas casas de madeira, mas a área já tem também residências em alvenaria. A maioria das moradias, disseram os invasores, tem água e energia elétrica obtidas de forma clandestina. “A gente puxou gato pra tudo. A gente sabe que é crime, mas quem está aqui dentro precisa, estamos defendendo o nosso lado’’, disse Maria de Jesus, mãe de sete crianças, desempregada, referindo-se às ligações irregulares que alguns ocupantes garantiram para suas casas a partir das redes regulares de energia e água que passam Estrada Nova.
Maria de Jesus contou que nasceu e se criou nas redondezas e o terreno em questão sempre esteve desprezado. “Agora, depois que a gente ocupa, eles vêm dizer que tem um projeto de moradia para outras pessoas, isso não é justo. Estou comendo com a ajuda da comunidade. Não vou sair nem tirar meus filhos daqui’’, disse ela.
Vários moradores mostravam-se revoltados, ontem, com a ameaça de despejo e prometiam resistir à ação judicial e policial. Sebastião Conceição Martins tentava acalmar os ânimos. Ele disse que é liderança comunitária do bairro do Jurunas e trabalhador autônomo. Não mora na ocupação, mas desde o início da invasão tem buscado negociar com dirigentes de órgãos competentes, a exemplo da Superintendência do Patrimônio da União (SPU), que inclusive teria cedido a área pertencente na condição de terra da marinha para a PMB.
“Só aqui no Jurunas tem quatro obras paradas da Prefeitura de Belém. É só ir lá na orla do Jurunas: tem três conjuntos habitacionais abandonados, a bacia da Estrada Nova nunca é concluída. A gente não acredita que esse projeto de moradia popular que eles estão nos dizendo que vai ser criado aqui sairá do papel’’, declarou Sebastião, acrescentando que gostaria que as autoridades se sensibilizassem com a realidade das famílias ocupantes.
A falta de condições financeiras é apontada pelos moradores como motivo para a invasão do terreno. “Eu sou pastora e estou começando a construção da igreja, a gente está orando já lá’’, disse Arlene Tavares da Costa, que admitiu morar há quase um ano na área junto com mais sete irmãos, por não ter como pagar aluguel. Cada um dos sete irmãos da pastora tem sua casa no terreno e a família agora está construindo a casa da oitava irmã.
“Eu moro no bairro desde os 11 anos, estou com 45 agora. Passei um tempo no Rio de Janeiro por obra dos irmãos que ajudam a gente, e sempre que voltei para Belém esse terreno aqui era o mesmo. Aqui já teve estupros, mortes, a gente achava os ossos humanos. Tem senhoras piores que eu, com crianças pequenas, gente que ainda está pagando a madeira que comprou pra construir sua casa”, acrescentou a pastora.