Museu do Tribunal de Justiça guarda tesouros e boas histórias de momentos marcantes do Estado
Pode acreditar: é difícil achar algum fato relevante da história do Estado do Pará que não envolva a Justiça, ainda que indiretamente. E boa parte dessas histórias pode ser encontrada em meio ao riquíssimo acervo do Museu do Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJ-PA), subordinado ao Departamento de Documentação e Informação. E outra coisa que muita gente não sabe é que o próprio espaço, situado dentro do suntuoso prédio do antigo Instituto Lauro Sodré, na avenida Almirante Barroso, guarda muitas e muitas curiosidades, além de registros de “ocorrências interessantes” ou mesmo sobrenaturais envolvendo até antigos desembargadores, já falecidos.
É bom esclarecer que não se trata de assombração ou qualquer coisa do tipo. “Eu costumo dizer que fenômenos acontecem aqui!”, brinca Cacilda Pinto, analista judiciária e historiadora, além de chefe do serviço de Museu e Documentação Histórica do TJ. Já há algum tempo, o tribunal realiza programações - inclusive itinerantes - para estimular a visita às memórias da Justiça no Estado. E, além de fatos interessantes sobre a história do Pará, como por exemplo a origem do Hino do Pará e do popular docinho “Monteiro Lopes”, o visitante com certeza vai ganhar de brinde muitos relatos de eventos que tornam impossível duvidar do quão especial é o museu.
“No antigo prédio, o museu, infelizmente, era tratado como um depósito de coisas velhas, de quinquilharias. Mas, quando nos mudamos para o Lauro Sodré e nos foi dado esse espaço, pudemos constatar a riqueza de informações guardadas nesse setor”, diz Cacilda. “Ao arrumar e organizar o material do museu, descobrimos que o TJ guarda muitas ‘primeiras vezes’.
Uma delas se refere à primeira vez que um negro assumiu o principal cargo do TJ. Foi Agnano de Moura Monteiro Lopes, presidente entre 1968 e 1975, e seria em homenagem a ele a criação do doce Monteiro Lopes, já que ele era considerado um homem ‘negro de alma branca’, e isso era um elogio na época, era uma forma de dizer que se tratava de um homem nobre”, relata. “Assim como foi o Pará que teve uma primeira mulher presidindo o TJ, a desembargadora Lídia Dias Fernandes, presidente entre 1979 e 1981”, acrescenta.
Está também pelos registros do TJ, por exemplo, a histórica briga entre o Paulo Chaves e Edmilson Rodrigues - à época, respectivamente, secretário de Estado de Cultura do governador Almir Gabriel e o prefeito de Belém -, sobre a derrubada do muro do Forte do Castelo quando da recuperação do Centro Histórico de Belém pelo governo do Estado no fim da década de 1990. Há também honrarias ao autor do belíssimo Hino do Pará, composto pelo 20º desembargador a presidir o tribunal, Artur Teódolo dos Santos Porto (1928-1929).
É possível até mesmo, durante o passeio, usar as vestimentas que advogados e juízes usam durante um julgamento enquanto se conhece mais sobre a história da Justiça no Estado - e a do Estado propriamente dito.
A cereja do bolo de uma ida ao museu é a história que os documentos não contam, como a do desembargador Raymundo Nogueira de Faria, presidente entre 1947 e 1950. Em 2008, quando Cacilda e um grupo de historiadores organizavam uma publicação sobre a história do TJ e seus desembargadores, toda vez que chegava na hora de mexer com as informações dele, acontecia alguma coisa. “Era impressora funcionando sozinha, formigueiros enormes formando círculo em volta de quem tava com os documentos que eram do desembargador, até mesmo na hora de rodar o livro, deu problema na gráfica quando chegou na página dele!”, lembra Cacilda.
“Conversei com o neto dele, que é funcionário do TJ, assim como o pai dele também foi, e ele acabou me contando que esse desembargador se manifestava em um centro espírita. Contatei pessoas de lá e descobrimos que havia informações na biografia dele que tínhamos deixado de fora, e que seriam importantes, como o fato de ter escrito o primeiro livro sobre os mortos no Brasil e de ter um filho pelo qual ele seria muito apaixonado e que morreu muito pequeno. Assim que incluímos essas informações, o livro rodou e tudo deu certo”, relata.
O “fenômeno” mais recente aconteceu no início do ano passado, quando três pedras se soltaram do teto e da parede de onde fica o museu, sem deixar buraco nem nada, e quase atingiram funcionárias que estavam trabalhando. “Até padre parapsicólogo veio aqui”, revelou.
Essas muitas histórias também chegam às ações itinerantes do TJ pelo interior do Estado, coordenadas pelos Juizados Especiais, que têm como objetivo a liberação de processos a fim de dar celeridade dentro do Judiciário. “Levamos um ônibus, que ganhou o nome de Museu Sobre Rodas, com algumas peças do museu que tentam dar uma ideia do que temos aqui na sede, e na hora de falar da história, dos documentos, acabamos contando um pouco dessas curiosidades”, afirma Cacilda.