Em Belém é comum ver todos os dias crianças e jovens em situações de risco
Crianças e adolescentes trabalhando em condições penosas e arriscadas nas ruas de Belém são uma cena recorrente. Basta percorrer trechos específicos da cidade para encontrar, cotidianamente, meninos e meninas vendendo objetos, bebidas, lanches ou mesmo pedindo esmolas em semáforos e feiras. Além de arriscar a vida no trânsito da capital paraense, esses jovens, em razão da pobreza absoluta, estão expostos à criminalidade e ao uso de drogas.
Sob sol intenso ou chuva forte, mal vestidos, sujos da poeira do dia a dia, famintos, a pele acobreada da rotina pesada, atravessando as vias entre os veículos em movimento, dependurados nas janelas dos ônibus, pedindo dinheiro nos sinais, as situações de abandono e violação dos direitos da criança e do adolescente são muitas, frequentes e graves.
Rosto suado e encardido, expressão fatigada e melancólica, um adolescente franzino, 16 anos, sentava sob uma árvore para descansar de várias horas de tarefas pesadas. Vendendo água há 5 meses na Avenida Augusto Montenegro, ele relata que trabalha com vendas em Belém há cerca de dois anos, mas já foi entregador de refrigerantes em um depósito de bebidas. A necessidade o obriga a trabalhar desde cedo. “O dinheiro que eu ganho no dia a dia me ajuda a comprar as minhas coisinhas e também serve para aumentar a renda em casa”, explicou ele, que mora com os pais e dois irmãos mais novos. Ele conta que os familiares o incentivam a trabalhar para que ele contribua financeiramente com as despesas do lar. “Meus pais não acham ruim que eu trabalhe. Sei que é um pouco arriscado e cansativo, mas pelo menos não estou desocupado, sem fazer nada”, minimiza.
O adolescente diz que, apesar da exaustão em alguns momentos, após uma longa manhã de trabalho, frequenta a escola regularmente, onde cursa a sétima série, e sonha com o diploma de nível superior. “Eu fico cansado, às vezes, mas não deixei a escola. Já me acostumei com as duas rotinas, na verdade. Ainda não sei muito bem o que quero ser quando crescer, mas espero me formar e ser alguém na vida”, destacou.
Também vendedor diário de objetos nos semáforos da Avenida Independência, outro jovem de 16 anos conta que trabalha nas ruas de Belém há cerca de 5 semanas. Ele diz que o trabalho é difícil, mas não atrapalha as atividades escolares. “Continuo estudando normalmente, faço a sexta série. Pretendo terminar meus estudos e arrumar um trabalho melhor, claro”, frisou, ao explicar que a renda das vendas complementa o orçamento da família. “Meus pais são vendedores ambulantes e o pouco que eu ganho serve para ajudar em casa também. O dinheiro que eu ganho aqui, nas vendas, me ajuda bastante. Sei que não é certo, mas é a solução que encontrei”, resigna-se.