No acampamento em São Brás sem-terra ouvem poetas e cantores camponeses
O massacre de Eldorado de Carajás, que entrou para a História como o caso mais emblemático de conflitos de terras no Brasil, completou 20 anos ontem, marcado por vários protestos. O combate resultou na morte de 23 sem terras, dos quais 19 faleceram no momento e outros 4 em decorrência do massacre, e mais de 100 pessoas foram mutiladas. Desde sábado, 16, ativistas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vindos do norte, nordeste e sul do Pará chegam em caravanas na capital para organizar a mobilização. A expectativa da direção do movimento é que hoje totalize mil camponeses, acampados na Praça da Leitura, em São Brás, sem data para retornar.
A vinda do movimento a Belém, explica Raimundo Cabeludo, da direção do MST, é para reivindicar que o Estado cumpra seu papel e por justiça. “Estamos aqui denunciando a impunidade no Brasil, porque são 20 anos e o governo do Estado não cumpre seu papel, pois, além de matar os companheiros, abandonou os baleados. Pela incompetência do estado, 21 camponeses mortos no massacre, às margens da Rodovia PA-150, no quilômetro 95, na altura de Eldorado dos Carajás, sul do Estado. Reivindicamos também que a Justiça cumpra seu papel e coloque os assassinos na cadeia, porque houve condenação, mas, até hoje, ninguém foi preso pelo massacre, estão todos impunes. Nossa pretensão é ficar o tempo necessário para realizar nossas ações”, afirma a direção do movimento.
Na manhã de hoje, os sem-terra saem em caminhada pelas ruas da cidade para fazer essas denúncias ao público. À tarde, o dirigente informa que acontece reunião com representantes do governo do estado, na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), para tratar da desapropriação de terras, o repasse das áreas para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e solicitar ao estado que tome medidas diante de crimes ambientais que o movimento denuncia.
Amanhã, a partir das 14h, Raimundo Cabeludo afirma que está agendada reunião no Incra para que o movimento exija a desapropriação de algumas áreas, “entre elas a do pastor Josué Bengtson, que fica em Santa Luzia do Pará, nordeste do Pará. Além de créditos para habitação à construção de casas e para plantações”, destaca.
Na manhã de ontem, na Praça da Leitura, o movimento dos sem-terra organizou programação cultural com a participação de cantores e poetas camponeses. À tarde, o MST, que faz parte do Movimento Frente Brasil Popular, acompanhou a votação do impeachment no mesmo local, onde chegaram outros movimentos, todos contra o impedimento. “Somos a favor da democracia brasileira e contra o impeachment, porque este é um golpe da direita que quer tirar do poder uma presidenta eleita pelo povo”, ressalta Raimundo Cabeludo