Apenas uma das cinco testemunhas da acusação relacionadas pelo Ministério Público do Pará (MPPA) compareceu nesta terça-feira (6) ao segundo julgamento do fazendeiro José Rodrigues Moreira, acusado de ser o mandante do assassinato do casal de extrativistas José Cláudio e Maria do Espírito Santo. O réu está foragido e não compareceu ao Fórum Criminal de Belém.
O casal de extrativista José Cláudio e Maria do Espírito Santo foi assassinado no dia 24 de maio de 2011, no município de Nova Ipuxina, no sudeste do Pará. Eles seguiam de moto por uma estrada da zona rural do município, quando foram abordados pelos dois assassinos no momento em que estavam passando por uma ponte. Os dois foram atingidos com tiros de espingarda e morreram na hora. A motivação do crime seria a disputa de terras.
O júri começou com o depoimento da única testemunha da acusação, o colono Francisco Tadeu Vaz e Silva, que ocupava um lote de terra da área disputada pelo réu. O depoimento terminou e começaram as manifestações: primeiro a promotoria, que se manifesta por uma hora e meia. A defesa terá tempo igual.
Segundo Erivaldo Santis, advogado de defesa de José Rodrigues, o réu não tem obrigação de comparecer ao julgamento e será mantida a negativa de autoria por não haver evidências que condenem o acusado.
Do lado de fora do Fórum, membros de movimentos sociais fazem uma manifestação. Com faixas e cartazes, eles pedem justiça no caso. A previsão é que o julgamento encerre às 16h30.
Julgamento
O primeiro julgamento ocorreu em Marabá, no ano de 2013 e o réu foi absolvido. O tribunal anulou o júri, que foi transferido para a capital, e decretou a prisão preventiva de José Rodrigues Moreira.
No mesmo julgamento, foram condenados como executores das mortes o irmão dele, Lindonjohnson Silva Rocha (43 anos de prisão) e Alberto Nascimento (42 anos de prisão). Lindonjohnson está foragido desde novembro de 2015 e Alberto cumpre pena no hospital de custódia e tratamento psquiátrico, em Santa Izabel, nordeste do estado.
Antes do crime, o casal de extrativistas vinha sendo ameaçado de morte. “Eram lideranças populares junto às famílias para que pudessem exercer uma atividade agrícola sem destruir o meio ambiente. Esse era o foco deles. Esse projeto ameaçava os interesses do latifúndio”, diz o padre da Comissão da Pastoral da Terra, Paulo da Silva.
O suspeito de mandar matar o casal, José Rodrigues Moreira, antes do crime teria comprado uma área de terra de 144 hectares, o que corresponde a três lotes normais de assentamentos de famílias sem terra. Segundo a pastoral, a compra era ilegal dentro do assentamento, principalmente por ser extrativista.
Segundo a CTP, quando a área foi comprada já existiam três famílias residindo no local. O suspeito teria tentado expulsar as famílias do terreno e o casal José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo Silva teria dado apoio às famílias, denunciando José Rodrigues Moreira ao Incra e para a imprensa. Por este motivo, José Rodrigues Moreira teria encomendado a morte do casal.
Meses antes do crime, em um evento que discutiu o desmatamento na Amazônia, José Cláudio denunciou as ameaças. “Eu vivo com a bala na cabeça. Posso está hoje aqui conversando com vocês e daqui a um mês vocês podem ter a notícia de que eu desapareci”, disse a vítima na época.