Homenagem à escritora teve palestra de Amarilis Tupiassu
“Aqui jaz Eneida. Esta mulher nunca topou chantagem”. Este epitáfio, em Santa Izabel do Pará, revela uma das faces de Eneida de Moraes. Conhecida pela sua insubordinação e, ao mesmo tempo, pela sua paixão incondicional por Belém, a escritora foi tema de mais uma edição do Chá Literário, promovido pelo Departamento de Documentação e Informação do Tribunal de Justiça do Pará (TJPA), nesta sexta-feira, 21, na Biblioteca Desembargador Antônio Koury, no edifício sede.
A vida e obra da irrequieta e insubmissa Eneida de Moraes foi apresentada pela professora dra. Amarilis Tupiassu, que detalhou aspectos relevantes da produção literária e das relações com a família e amigos. “Eneida era afetuosa. Foi amiga de (Carlos) Drummond (de Andrade), quando foi morar por 13 anos no Rio de Janeiro. Morava no mesmo prédio do Manuel Bandeira. E foi presa com Graciliano Ramos”, lembrou.
O gênero literário da crônica foi a produção mais expressiva de Eneida, que trazia como temática a Belém de outrora, o Círio de Nazaré, as vivências na Ilha do Marajó, o Ver-o-Peso e o Estado do Pará. A professora apresentou os livros de Eneida de Moraes, entre eles os de crônicas Aruanda e Banho de Cheiro, que traz o relato sobre Belém. Com linguagem simples, Amarílis afirmou que a escritora não apreciava modelos e padrões.
“Ela era uma demolidora de moldes fixos, irrequieta a ponto de não poder ficar presa na crônica, que é linda e não é exagero. Ela se expandia na crônica em momentos que não sabemos se era um conto, novela ou mesmo crônica”, explicou.
Após a exposição de Amarílis, a Associação Carnavalesca A Grande Família fez uma apresentação do samba no qual Eneida de Moraes foi homenageada, em 1984, pelo Quem São Eles, com o enredo "Eneida, Amor e Fantasia". Os participantes apreciaram o samba enredo. A servidora Simonne Batista, da Secretaria de Informática, trouxe a mãe que também tem o nome de Eneida para prestigiar o evento. “Sempre que posso participo do evento. É muito importante porque faz o resgate dos nossos autores e de autores nacionais. Como o tema era Eneida, convidei a minha mãe para participar”, disse Simonne. “O meu pai leu um material de Eneida e colocou o nome dela em mim. Adorei conhecer um pouco mais dela”, completou Eneida Queiroz, de 80 anos.
A escritora Eneida de Moraes escreveu para o Jornal do Brasil, Diário de Notícias e Manchete, quando trabalhou como jornalista e cronista. Apaixonada pelos rios da Amazônia, Eneida, durante os anos 20 e 30, colaborou ainda em jornais como o Estado do Pará, o Para Todos - do Rio de Janeiro - e nas revistas Guajarina, A Semana e Belém Nova. Em 1930, fixou residência na capital carioca, onde filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Por causa dessa atuação militante, a escritora foi presa várias vezes. A primeira prisão aconteceu em 1932 e uma série de outras ocorreram durante o Estado Novo.
Fundadora do Museu da Imagem e do Som do Pará, em 1971, Eneida publicou 11 livros e várias traduções. Escreveu “História do carnaval carioca” em 1958, a primeira grande obra sobre o assunto, que estabeleceria as principais categorias do carnaval brasileiro ao definir o conceito de cordões, corso, ranchos, sociedades e entrudo, entre outros. Eneida também foi criadora do baile do Pierrot no Rio de Janeiro e em Belém.