Para especialistas, é preciso discutir causas e formas de prevenção
O Brasil é o 8º país com maior número de suicídios no mundo. São cerca de 11 mil mortes por ano, afirmou o psiquiatra do Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJPA), Eder Mark Filo- Crão Lima, nesta sexta-feira, 22, no Fórum Criminal de Belém, durante o Seminário “Suicídio: Conhecer para Prevenir”.
Cerca de 70 servidores acompanharam ao encontro, cujo ponto principal foi a necessidade de romper esse tabu e se falar sobre o assunto para entendê-lo. “O grande desafio é a adesão das famílias no tratamento dos sintomas que levam ao suicídio por conta do preconceito”, afirmou o psiquiatra.
Segundo Eder, 98% das pessoas que se suicidaram tinham transtornos mentais, entre eles: esquizofrenia, transtornos de bipolaridade e personalidade, humor, uso de álcool e, a principal delas, a depressão. “ A doença que mais afasta as pessoas do trabalho em número de dias é a depressão. O tratamento precisa ser combinado com medicação e psicoterapia”, alertou.
De acordo com a doutoranda em psicologia Rose Daise Melo do Nascimento, um dos pontos essenciais para se entender o suicídio é compreender as emoções das pessoas. “O suicídio não ocorre do nada, existem sintomas que se identificados ajudam a prevenir a tragédia”, afirmou.
Ainda segundo a psicóloga, as pessoas não trabalham a liberação de emoções para ter qualidade de vida. “É muito fácil demostrar felicidade e amor, mas temos que aprender a trabalhar e dar vazão a sentimentos como raiva, culpa, medo, inveja, frustração, porque se isso fica preso em nós, uma hora a dor vai chegar e vai determinar comportamentos autodestrutivos como o suicídio”, explicou.
Rose ressalta que “estamos em uma geração que não sabe lidar com a raiva, com a necessidade de esperar, porque não tem tolerância para expressar o sofrimento, não tem tempo para viver o ritual do luto quando ocorre uma perda”. Para ela a prevenção passa pela conscientização de que todos precisam tratar as emoções que iniciam na infância.
O servidor Alexandre Soliman revelou que o seminário foi edificante e, ao mesmo tempo, preocupante. “O suicídio é um problema de saúde pública. Me fez refletir sobre como trabalhar os adolescentes se os pais estão, muitas vezes, em conflitos e desestruturados. Que referencial os adolescentes estão tendo? ”, questionou. Soliman também destacou que as famílias precisam retomar os valores absolutos.
Também ministraram palestras o enfermeiro Mário Antônio Moraes Vieira, mestre em ciência da motricidade humana e professor da Universidade Estadual do Pará (EUPA), que explicou os procedimentos dos profissionais da saúde diante dos pacientes com risco psiquiátrico; e a assistente social Marilda Martins Moraes, mestre em sociologia, que falou sobre o suicídio na adolescência a partir das relações sociais que hoje estão frágeis e se desfazem muito rápido.
Segundo Marilda, 90% dos casos de suicídio poderiam ser prevenidos. “Prevenir o suicídio passa mais pela escuta e observação dos jovens, porque o que a pessoa quer é acabar com a dor e planeja isso através do suicídio, então se percebermos mais o outro, poderemos ajudar. Mas o assunto ainda é um tabu”, observou.
O evento foi realizado pela Coordenadoria de Saúde do TJPA, cujo responsável é o analista Manoel de Christo Alves; pela Coordenadoria de Apoio Psicossocial, que tem à frente a servidora Carolina Monteiro; e pela Coordenadoria de Treinamento e Formação, que tem como gerente o servidor Jean Karlo Quintela.