Varas da Infância e Juventude mudam olhar sobre internação
Cerca de 20 socioeducandos, entre 16 e 17 anos, da Unidade de Atendimento Socioeducativo de Ananindeua, participaram da atividade de encerramento do projeto Caminhando junto em Ressocialização, nesta quinta-feira, 26. Além de atividades psicopedagógicas, foram distribuídos kits de higiene e camisas e entregue material para revitalização da pintura do bloco da "Fase Conclusiva", onde ficam os adolescentes participantes.
A partir de uma ideia das estagiárias, o projeto foi laborado pela equipe interdisciplinar das 2ª e 3ª Varas da Infância e Juventude e desenvolveu desde setembro deste ano um plano de trabalho com palestras, dinâmicas e atividades para os socioeducandos em cumprimento de medida na Unidade de Ananindeua. No total, foram realizado oito encontros.
Débora da Silva, estagiária de Pedagogia, contou que a ideia surgiu após uma visita à unidade. “Viemos agregar ao trabalho que já é desenvolvido juntos as adolescentes”, disse. A estagiária de Psicologia Larissa Brito explicou que o trabalho possibilitou a aproximação com os socioeducandos. “A proposta é diferente porque possibilita a eles serem ouvidos como pessoa e não serem vistos pelo ato infracional que cometeram”, destacou.
A pedagoga da 3ª Vara, analista judiciária Ana Paula Ramos, explicou que o trabalho foi realizado dentro da Unidade, sob a supervisão técnica da equipe interdisciplinar. "A equipe é formada por pedagogos, psicólogos, assistentes sociais e estagiários que levaram palestra sobre higiene doenças sexualmente transmissíveis, além de dinâmicas e oficinas", completou.
Temas ligados à família, autoestima, educação e saúde foram debatidos ao longos do encontros. Um adolescente de 16 anos disse que se sentiu melhor após a palestra sobre autoestima. “Foi uma oportunidade que tivemos porque é difícil estar aqui”, disse ao se referir ao curso profissionalizante de eletricista predial.
Outro adolescente de 17 anos afirmou que as palestras ensinaram a ter paciência e tolerância. “Foram boas palestras. Deu para distrair a mente e pudemos sair um pouco. Aprendi bastante que é preciso ter calma e paciência. Também tiveram vários encontros de saúde. Seria bom se (a palestra) voltasse”, destacou.
De acordo com o juiz titular da 3ª Vara da Infância e Juventude, Vanderley Oliveira da Silva, o projeto possibilitou o rompimento da visão de encarceramento e favoreceu um trabalho mais humanístico. “A curto e médio prazos, eles têm um novo olhar da internação e do processo educativo da reinserção. A longo prazo, eles percebem a ressignificação nos valores e nos princípios, o papel deles na sociedade e atitudes no trabalho”, explicou.
O juiz da 2ª Vara da Infância e Juventude, Everaldo Pantoja e Silva, disse que a importância do projeto foi mostrar ao socioeducando que a vida oferece várias oportunidades a eles. "A fim de que eles se preparem para viver na comunidade, e, ao mesmo tempo oferecer mais uma experiência prática aos estagiários que atuam juntamente com o corpo de especialistas das Varas", disse.
A Unidade de Atendimento Socioeducativo de Ananindeua tem, atualmente, 35 adolescentes. A gestora da unidade, Sônia Cabeça, afirmou que o projeto permitiu a aproximação do juizado e os socioeducandos. “Foi importante porque quebrou aquela ideia do Juizado enquanto punição. Pelo contrário, agora a visão é de que o juizado é parceiro do socioeducandos na ressocialização. Foi possível eles perceberem que são capazes de mudar a própria vida”, destacou.