Curso capacita penados a se tornarem empreendedores
O curso de capacitação do projeto “Reciclando Lixo, Transformando vidas”, promovido pelo Tribunal de Justiça do Pará (TJPA), que envolveu 30 egressos do sistema penal, na última semana, deve se expandir e alcançar um número cada vez maior de apenados em regime de prisão domiciliar ou livramento condicional. Durante o curso, coordenado pelo Núcleo Socioambiental do TJPA e pela 1ª Vara de Execução Penal, os egressos receberam capacitação sobre criação e funcionamento de cooperativas, coleta, triagem, preço e pesagem de material reciclável.
Na Região Metropolitana de Belém são 2.100 egressos do sistema penal. “Destes, 900 estão cadastrados no Programa Começar de Novo, dos quais cerca de 200 já foram inseridos no mercado de trabalho através de convênios firmados pela Vara de Execução com órgãos públicos e privados. A média nacional de reincidência é de 70/%, e a única forma de promover o não retorno aos cárceres desse público alvo é com projetos como esse”, explicou o juiz Cláudio Rendeiro, titular da 1ª Vara de Execução Penal da capital.
O curso, cujo encerramento ocorreu na última sexta-feira, com entrega de certificados, teve a parceira da Cooperativa de catadores (Concaves). A metodologia alia a inserção do apenado no mercado de trabalho aos valores de responsabilidade socioambiental do Tribunal de Justiça do Estado, que obedece à resolução do CNJ, esclarece Evelise Rodrigues, coordenadora do Núcleo Sócio Ambiental do TJPA, ao lado da desembargadora Vera Araújo. Segundo Evelise, a parceria com a Concaves já existia, e a união com o Começar de Novo faz parte de um dos macros desafios do Judiciário, que é “implantar políticas institucionais voltadas à promoção da cidadania com sustentabilidade”.
A diretora de produção e cooperada da Concaves, Herlen Ferro, entende que muitos participantes têm perfil para a atividade e devem se adequar ao trabalho da cooperativa, que necessidade de pessoas capacitadas para a economia solidária.
Os dois irmãos R. R. M., de 26 anos, e R. R. M., de 23 anos, beneficiados com livramento condicional, monitoração eletrônica e prisão domiciliar, estão entre os capacitados para coleta seletiva de materiais. Eles se dizem estimulados com o trabalho junto à cooperativa de catadores. “Vou agarrar esse oportunidade com unhas e dentes”, disse o mais velho, que sempre desejou trabalhar, mas nunca teve chances, segundo ele.
R.R.M. contou que usava droga, depois passou a traficar. Ao ser preso, foi sentenciado a seis anos de prisão e ganhou uma deformidade permanente na perna por causa de um tiro de revólver. R.R.M disse que o pai é alcoólatra e que sua família hoje se resume a ele e ao irmão. Cada um deles tem um filho, ambos morando com as mães. "Agora, com essa oportunidade, tenho fé e esperança que vou conseguir começar uma nova vida".