Marcha unifica vários setores contra a exploração de crianças e jovens
Cerca de 15 mil pessoas firmaram, ontem pela manhã, o compromisso de Belém de dar um basta ao trabalho infantil no Pará e no País, até 2020, e erradicar até o ano que vem as piores formas dessa ilegalidade, entre as quais o serviço doméstico de crianças e jovens.
A Marcha de Belém Contra o Trabalho Infantil unificou servidores públicos estaduais e municipais, grupos da terceira idade, juízes, promotores, defensores públicos, políticos, artistas, empresas e empresários, mas sobretudo os jovens, que marcaram presença em animados grupos, carregando faixas, cartazes e o multicolorido cata-vento ícone da campanha.
“O cata-vento é a hélice que faz decolar o sonho das crianças e adolescentes por um mundo melhor, a varinha de condão da imaginação infantil por um futuro diferente”, explicou o ministro do Tribunal Superior do Trabalho, Lélio Bentes Corrêa, coordenador nacional do Combate ao Trabalho Infantil, ao dar início à manifestação pública.
Desde às 7 horas, as pessoas começaram a se concentrar na Praça Pedro Teixeira, em frente à Escadinha do Cais do Porto, na Estação das Docas, Campina. A banda do Corpo de Bombeiros abriu a manhã com o Hino Nacional Brasileiro.
A essa altura, o público tomava a Presidente Vargas, desde a Santo Antônio e além. Organizada pelo Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (TRT8), com o apoio do Tribunal de Justiça do Pará (TJPA), a Marcha teve à frente o desembargador Francisco Rocha, presidente do TRT8.
Para ele, a manifestação representa a culminância de um processo de mobilização da sociedade civil no combate ao que classificou como uma chaga que envergonha a todos os brasileiros. “O TRT se sente honrado de estar, junto com outros elementos da sociedade, mobilizando, chamando as pessoas para que possamos finalmente erradicar o trabalho infantil da nossa realidade”.
“PARCEIRO”
O desembargador José Maria Teixeira do Rosário, coordenador estadual de Infância e Juventude do TJPA, representou o presidente do Judiciário paraense, desembargador Constantino Guerreiro, na Marcha de Belém. Ele reiterou o compromisso da Justiça do Pará com a erradicação do trabalho infantil no Estado.
“O Tribunal de Justiça é parceiro na Comissão Estadual de Combate ao Trabalho Infantil. A importância da Marcha é conscientizar a sociedade de que a criança deve estudar, nunca trabalhar. Nós sabemos que o jovem, a partir dos 14 anos, pode trabalhar, mas na condição de aprendiz. Então, o objetivo é esse: a conscientização da sociedade”, resumiu.
Titular da 3ª Vara da Infância e Juventude e representante do TJPA na Comissão Estadual Contra o Trabalho Infantil, o juiz Vanderley Oliveira avaliou a Marcha de Belém como um marco histórico para a Justiça brasileira.
“A partir de Belém do Pará conclamamos a sociedade ao enfrentamento desse problema, com responsabilidade, com equilíbrio, para colocar as nossas crianças e adolescentes no eixo da formação saudável. Esse pontapé inicial certamente vai repercutir em todo o Brasil e no dia 12 de junho, que é a Marcha Nacional, que vai consolidar de forma plena este momento que se inicia em Belém”.
Uma outra participação de destaque do TJPA, durante a marcha, foi a do juiz Cláudio Rendeiro, muito aplaudido pela performance de seu personagem caboclo Epaminondas Gustavo, que fez várias intervenções durante a manifestação.
CONSCIENTIZAÇÃO
Titular da 5ª Vara do Trabalho de Belém, integrante da Comissão Nacional e uma das gestoras regionais do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, a juíza Zuíla Lima Dutra classificou a Marcha de Belém como um grande momento de conscientização da sociedade contra formas de trabalho que inviabilizam a infância e comprometem o futuro de milhares de adolescentes.
“A proteção da infância é um dever do Estado, da família e de toda sociedade. Queremos unir esforços para que todos nós juntos possamos trabalhar para erradicar esse mal que tanto envergonha a nossa geração”, definiu a juíza.
A juíza informou também que o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil tem várias outras ações em curso, além da Marcha, entre as quais destacou a qualificação de jovens a partir de 14 anos, com seleção feita na periferia de Belém; e pesquisa inédita no Brasil, para conhecer o problema a partir do olhar das crianças e adolescentes, com questionários aplicados nas escolas públicas estaduais e municipais e resultado a ser analisado pelo Instituto de Pesquisas Científicas da UFPA.
“Vamos conhecer os motivos da evasão escolar, os focos de trabalho infantil por município e região e as aspirações das crianças e adolescentes quanto às políticas públicas”, explicou a juíza.
O prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, responsável pelas políticas públicas voltadas à infância e a à juventude no âmbito da capital, também marcou presença e parabenizou o Judiciário do Pará por dar o pontapé pioneiro nas marchas contra o trabalho infantil no País.
“Preservar a infância é fazer a criança brincar e estudar, buscar as políticas de inclusão social das famílias para que a necessidade não seja justificativa para o trabalho da criança; todas famílias têm que ser envolvidas e a marcha tem esse condão, de massificar a campanha pela consciência contra o trabalho infantil", disse o prefeito.
CULTURA
A Marcha de Belém teve a participação de dois projetos considerados pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil como modelos de boas práticas de inclusão voltados a crianças e adolescentes: as Crias do Curro Velho e o Cordão do Peixe Boi, do Arraial do Pavulagem. O compositor Ronaldo Silva, coordenador do Pavulagem, frisou a experiência de 27 anos de uma iniciativa voltada à juventude, que experimenta a cultura pelo seu viés pedagógico. “A gente só veio confirmar, junto com um ‘montão’ de gente, o tanto que o Brasil está cheio de pessoas a favor do bem, de práticas saudáveis. Eu acho que todas as entidades que estão sensibilizadas para essa causa estão afinadas com a gente e a gente com elas”.
Ao final, o trio elétrico que comandava a manifestação estacionou em frente ao Teatro Experimental Waldemar Henrique para a leitura da Carta Compromisso de Belém Contra o Trabalho Infantil. Seguiram-se shows das Crias do Curro Velho e do Arraial do Pavulagem e em seguida a dispersão, por volta de meio-dia.
Imagens da caminhada aqui